Para começar, gostaria de colocar um final em um monte de coisas. Gostaria, claro; mas ainda me é muito difícil sair por aí, assim, colocando ponto final em tudo que tem me desagradado ao passar do tempo. Tá tudo bem inquieto por aqui e eu não consigo colocar ponto final nessas inquietações. Não consigo finalizar com pontos, todos esses pontos de vista que lançamos no espaço já tão inquieto de nossas mentes que tanto mentem. E eu já nem sei mais compreender muito bem, todas essas subjetividades impressas nisso tudo que eu, já há muito, teimo em não dizer e ocultar, mas sinto muito bem e com toda certeza: esta lacuna solitária obscura na qual minha mente se tornou, uma sombra imprecisa de tudo e um pouco mais daquilo que um dia já fui. Sinto minhas mãos procurando o palpável e sinto as horas se desequlibrando sobre a corda bamba do tempo. Olho para o espelho e tudo o que vejo é um rosto, marcas de fraturas que o tempo não apaga e meu reflexo não esconde.
No espelho, meu rosto é cheio de vários e vários ‘pontos finais’. Agora, tanto faz, vai. O tempo tá passando e muita coisa anda passando à toda por aí, e tenho sério receio pra lá de temeroso, de que meu coração se permita aquietar; nada mais perigoso do que um coração quieto. Corações, quando há muito quietos, congelam e, dando-se sorte ao azar, morrem, talvez para sempre ou até para nunca mais. E, por isso - mas não só por isso -, fiquemos alertas, para tudo o que chegar. Se tudo der errado, a gente vai embora, arromba a porta, faz escândalo, sei lá. Se tudo acabar mal e muito mal, a gente dá nosso jeito, pois, nas horas de fuga, qualquer basculante vira saída de emergência.
Mas deixemos isso pra lá, por ora.
Tenho dormido muito mal, com horários trocados meio que virado do avesso. Se quer saber, tenho é pensado demais e me lembrado de coisas demais. Do nada aparecem alguns flashes de outras noites. Noites e mais noites, amigos e mais amigos. Noites viradas, música estrondando, copo na mão e nada a declarar. Só aquela velha pretensão, de quem jura saber. E, às vezes, ainda acho que em mim guardo certa pretensão, e de vez em quando fico sem assunto pra contar: fico sem saber o que falar; mesmo assim digo. Vou tentando dizer tudo que você gostaria saber e de ouvir de mim, mas, o teu silêncio convida o meu.
Não sei o que mais falar pra você. Não sei. Talvez seja você que tenha algo, sólido o bastante, para me dizer. E eu meio que espero - de saco cheio, admito - a sua hora de falar. Fala logo, fala. Fala, antes que meu coração se aquiete demais e fique frio e, frio fique, para sempre ou nunca mais.
Fico te esperando ligar, na tua hora certa e exata de me telefonar. Fico assim, e fico puta se não escuto o telefone tocar, nem mesmo uma mensagem para que eu me lembre bem e do bem de você. Daí é mal na certa e os flashes de sólida solidão me socam à cara outra vez. Não dói nem machuca, mas algo aqui dentro perde a força e quer morrer.
Gosto tanto de está acompanhada de você, é que por uns instantes me sinto inabalável, cercada de você por todos os lados, por e de qualquer coisa e o tempo todo, que eu até queria te conhecer de novo, assim, só mais uma vez. Aquela euforia de se saber bem de frente com alguma coisa completamente nova e saber o quanto aquilo é bom de se viver e de se alegrar. Às vezes, eu queria tudo de novo. Outras vezes, sei lá.
Queria entender mais sobre este assunto, para não faltar o assunto na hora de te dizer. Fico ligando pra você, pra você me atender e, quem sabe, até me entender e por mim se deixar levar, mais uma vez. Fico mandando mensagens, esperando uma resposta tua e a tua hora exata e certa de me responder. Ligo pra você, só para te ouvir atender e meu coração mais forte a pulsar; ligo para você, e é só para te ouvir respirar.