Escrever é um ato delicado. Fazia tempo que me despunha a parar em frente ao computador disposta a isso. Requer tanto tempo, paciência, não é tão simples quanto parece e além de tudo é preciso algo que vale a pena mesmo falar. Antes, eu escrevia tanto, tinha o prazer de parar e tecer as linhas de um texto como se fosse um bordado. Eu só queria falar dessa coisa de gostar. Eu só queria e quis - muito quis - acreditar que, sobre algo tão simples e tão essencial, naturalmente, eu pudesse livremente falar. E há quem diga que eu já falei demais, que eu já quis demais e já pedi e escrevi demais.
Durante um tempo perdi esse gosto de escrever, de parar e ler, dessa coisa de gostar e acreditar que há algo ou alguém valhia mesmo a pena relatar e passei a acreditar que guardar e enlouquecer sozinha era mais vantajoso do que se expor, mesmo que por quebra-cabeças e entrelinhas.
Mesmo desafiando de que já sorri demais, por ventura ou infelicidade, dizer que muito, também, um dia, já chorei. Era tudo escrito, mas até então não era mais.
Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão, tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto. Parece que perdi a prática; até mesmo dessa coisa de gostar.
Foi então que ele cruzou as linhas, de uma forma que eu jamais poderia descrever assim de primeira, me trouxe com ele aquela coisa de acreditar nas pessoas de novo, me fazendo relembrar o que era se encantar por alguém. Como se nos conhecêssemos há anos, poderia resumir assim.
Talvez, afinal, eu devesse começar a acreditar em milagres.
Como melhores amigos nos tratávamos acima de qualquer coisa, ele não era uma pessoa comum, isso eu soube desde que o vi. Foi quando eu senti uma vontade imensa de escrever pra ele.
E que gostar dele, não tinha mesmo saída.
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