sexta-feira, 1 de abril de 2011

Controle Remoto


Enrolada debaixo do cobertor, naquela madruga. Não sentia frio, sentia falta. Falta só. Sem um objeto direto pra isso. Eu não sei dizer exatamente do que. Eu não queria mesmo saber. Talvez seja de está sozinha muitas vezes sem alguém pra dizer qualquer coisa. Esse é o preço que a gente paga pela liberdade. Ao mesmo tempo que você pode fazer tudo, ao seu alcance nem tudo está.
As vezes a gente sente vontade de se prender em algo ou em alguém. De novo. Não é tão objetivo assim, é só meu. Que eu guardo, que eu tenho, que eu me asseguro. Ainda. E mais, além do que um pensamento bobo, idiota ou incoerente, é algo que eu acredito. Acreditar é bonito. É subjetivo. E será óbvio. Isso é acreditar. Embora que doa, ter fé em alguma coisa é, se deixar ferir pra curar, é se deixar doer pra sentir, é se deixar partir pra voltar, ou pra dividir. O pensamento diz tão devagar. Sair e volta sempre pro mesmo lugar. A saudade aperta, mas é bom imaginar que daqui a uma semana estarei vendo aquilo que me faz falta hoje. Agora é rotina a  espera na rodoviária. E ir embora é bom. A mala de mão pesa, mas não machuca. Saber que eu vou está aqui a semana toda é bom também. Voltar é melhor ainda. Viver agora é um embalinho de barco ou de berço. Poderia me trancar em pensamentos de outra epoca agora, mas a felicidade não me deixa. Despertar é preciso. Já não sinto mais medo. Já não sinto mais culpa. Já não sinto mais tanto. Tanto. Já estou ocupada o bastante para os meus dias e está sendo ótimo. Quero viver pra sempre assim, ocupadamente desocupada. Mente vazia o diabo faz a festa. Aprendi que saudade pesa, mas não mata. Que estar longe é bom pra dizer " nossa, estava morrendo de saudade de você". Não essa saudadezinha que a gente reproduz por ser bonitinha. Saudade de verdade. Nunca um "pra onde você vai?", "Aonde você está?", fez tanta falta. Dizer "mãe!" nunca foi tão bonito. Ouvir "que bom ver você" nunca fez tanto sentido. 
O caminho é bem longo, ando devagar, caminhando com calma, a distancia nem me assusta mais, o medo está longe, esperar pra ir pra casa já é natural. Entrar no ônibus é tranquilizante, é me deixar levar. É levar-me. É me leva. Passo a maior parte do tempo sozinha comigo. Penso tanto que já nem penso mais. Me preocupo tanto que não fico preocupada. Aqui é calmo demais. Era tudo que eu precisava. Viver comigo e pra mim era o que eu deveria sentir demais de novo. Sozinha e bem acompanhada. Amiga virou sinônimo de mãe. Mais do que nunca, nos ajudamos, viver sem ela nunca teve tanto peso imaginar. Aqui nos fazemos soma, divisão e apoio, por mais que sempre tenha sido assim, aqui, é somente eu e ela. É acordar cedo demais e nem se importar tanto com a hora. Ver que ela está comigo no mesmo lugar como sempre foi, é a melhor parte do meu dia. 
Está sendo tudo novo. E esse novo que antes me assustava, me faz bem agora. Conhecer tanta coisa e abrir ainda mais minha cabeça para as coisas que acontecem lá fora é surpreendente e maravilhoso. Me encontrei. Era tudo o que eu queria, está se encaixando perfeitamente em mim cada dia, como fio de lã, que me embola mas que me embala. Meu medo agora é outro. É do que está por vir, é do novo, de novo. Mas não importa. Aprender não se perde. Conhecimento se guarda e se acrescenta. Viver é assustador mas ainda sim é bom. E se me perguntassem, hoje, o que é amor, eu diria - é sentir saudades.



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