quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Penúltimo cenário

Quem dera eu poder escrever tudo que eu queria escrever, além disso, poder dizer tudo àquilo que eu queria dizer. E mais, me permitir sentir tudo aquilo que eu queria sentir. De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, acender velas, fazer caras, fazer novela – e como é de se esperar o script nem sempre é o mesmo. Alias, é o mesmo sempre. Por já saber de certo o enredo, o final já poderia prever, a história é sempre a mesma. Por que seria diferente?
Conheci um ator há um tempo atrás, inteligente, bonito, excelente no que fazia, pudera eu dizer que ele atuava muito bem, eu sempre o assistia, atentamente. Vigiava todos os seus ensaios, conhecia de ponta a ponta todas as suas falas e interpretações, apesar de repetitivos e decorados ele atuava muito bem. E como todos os atores, suas facetas eram bem reais. Eu o admirava muito, até hoje o admiro. Faz tempo que eu não o vejo e acho que até sinto falta dele. Quando a gente conversava, por vezes quase conseguia me enganar com aquelas falácias dele – ele achava que eu era boba de cair. Mal sabia ele que eu sabia daquele roteiro de trás pra frente. E pra não cair naquele jogo, aprendi a ser um pouco atriz também. No começo isso funcionava muito bem, até que chegou um tempo que eu não sabia mais o que era real ou ficção, na dúvida eu continuei a atuar, e ele, talvez, tentava me mostrar que aquilo tudo não era mais ficção.
E eu errei mais uma vez quando me pediu para que eu parasse de ser tão atriz e eu neguei. Continuei mentindo e blefando no jogo de não me deixar errar, quando o único jogo acertado seria não atuar, e eu: neguei. Toda atenta pra não me enganar com medo de errar, e eu negava e errava cada vez mais. Até que ele me disse que precisava ir embora, apesar de gostar muito de mim. E que apesar de sentir que tudo que eu fazia ou deixava de fazer era tudo atuação minha, ele precisava de algo mais – alguém que acreditasse nele. E eu o deixei ir, preferi que fosse, antes que eu descobrisse que eu era uma farsa pra mim mesma. Eu dizia pra ele que não acreditava fazia tempo naqueles finais felizes das novelas e peças que ele fazia. E ele disse que estava cansado de não acreditar. E tentava me mostrar que nem tudo era tão irreal quanto parecia. E que nem sempre ele era tão bom ator assim. Sem tanta dor, permiti e nem pedi que ficasse e nem quis saber também o porquê, se eu já sabia, antes que ele me mostrasse que o dizia era verdade. Dei meu número pra ele e guardei o dele, mas nem vou ligar apesar de ter lembrado dele, porque meu papel agora é outro. Talvez um dia ele volte e tente me mostrar mais uma vez que a historia poderia ser diferente, e eu não esteja tão cética. Ou pode ser que não, pode ser que nada disso acontença. Pode ser que eu nem o veja mais. Pra mim vai está tudo bem da maneira que for. Faz tanto tempo que eu não o vejo mesmo, talvez ele tenha até deixado a profissão de ator sem que eu percebesse ou tivesse noticia e eu preferi continuar aqui, descrente desse ou daquele final feliz que eu aprendi a desacreditar, sendo essa tão boa atriz, que ninguém percebe minha péssima atuação.
                                           
                                                                                                                                

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Que seja!

"Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim:


Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se não fosse nada. Que seja doce o dia quando eu abrir as janelas e lembrar de vocês;

Caio Fernando Abreu
E que seja doce, todos os dias.

domingo, 17 de outubro de 2010

Horário de Verão

Horário de verão, aah adoroo!, começou ontem, acordei já com o relógio adiantado por mais uma hora. Como havia dormido o dia todo, as horas passaram muito rápidas - afinal não tinha nada de bom a se fazer a não ser dormir e numa tarde daquela dormir era um convite tentador pra quando não tem nada e não se quer fazer nada – Acordei era meia noite, logo, 1 hora da manhã – horário de verão. Fui oscilar pela madrugada como sempre, lendo uns textos aqui, conversando ali, escrevendo, pausa pra um lanche, volta a ler, volta a conversar e sem resistir resolvi escrever, só que dessa vez uma mensagem, eram umas 3 horas, não sei exatamente imaginei que pelo horário e que pela breve ausência, ficaria surpreso e feliz com ela e quis fazer essa “surpresa” – acreditando que se fosse o contrario, sentiria o mesmo - e mandei. Como sempre - Irônica e um pouquinho orgulhosa, mas só um pouquinho, o suficiente pra disfarçadamente assumir alguma coisa: “Só pra você saber que eu não estou com saudades de você! Pode acreditar pq eu minto muito bem”. E voltei a fazer o mesmo script – ler, conversar, escrever. Numa conversa e outra, minha amiga me fez o convite tentador de ir à praia – era horário de verão -, assim que amanhecesse, me comprometi de acordá-la e apesar de ter ligado ligado ligado, ela não acordou e a praia ficou pra mais tarde. Sorte por ser horário de verão. Mais uma hora extra de sol, areia e mar. A água estava gelada e o sol começou a desaparecer. Ficamos sobre a canga jogando conversa a fora. Até que o sol sumiu de vez. E bateu maior saudade do verão, também. Mas já está pertinho, pensei. Como quem brevemente esquece, mas guarda essas coisas, recolhemos a saudade e as coisas e fomos embora. Assim como o sol que foi embora, a lembrança da mensagem o fez companhia - apesar de não ter esquecido dela,- porque talvez não esperasse nenhum retorno, ou porque não precisasse também – bastava ele saber e eu imaginar que ficaria surpreso e feliz. Mas inconsciente pensava – Espero que esteja pertinho,- mas era inconsciente.
Cheguei em casa, liguei o PC como sempre, e já ia me encaminhar ao banho quando – “Amoor” – já não precisava mais nada. – “te confesso q fiquei surpreso com a mensagem de ontem” – disse como eu esperava - “tava te sentindo tão distante nesses últimos dias”, concluiu como eu sentia – continuou, - “te confesso outra coisa”, – e pra minha surpresa disse em tom de irônia - “esses dias q a gente ficou um pouquinho longe teve seu lado bom tbm” e sem orgulho pra minha felicidade assumiu – “deu saudade,, vontade de passar na sua porta só pra te ver”.
Aaah! E confesso que fiquei toda boba, surpresa e feliz – e assumo aqui numa boa sem precisar disfarçar meu orgulho. Pode acreditar! Porque nem sempre eu sei ou consigo mentir.



Para: ah, quem reconhece os verbos e objetos indiretos sabe que é o sujeito :)

O mar mais longe que eu vejo

Talvez, sim, talvez eu fosse mulher, porque pensava no príncipe, a minha mão direita era a minha mão e a minha mão esquerda era a mão do príncipe, e a minha mão direita e a minha mão esquerda juntas eram as nossas mãos. Apertava a mão do príncipe sem cavalo branco, sem castelo, sem espada, sem nada. O príncipe tinha uns olhos fundos, escuros, um pouco caídos nos cantos e caminhava devagar, afundando a areia com seus passos. O príncipe tinha essa coisa que eu esqueci como é o jeito e que se chama angústia. Eu chorava olhando para ele porque eu só o tinha e ele não falava nunca, nada, e só me tocava com a minha mão esquerda, e eu cantava para ele umas cantigas de ninar que eu tinha aprendido antes, muito antes, quando era menina, talvez tenha sido uma menina daquelas de tranças, saia plissê azul-marinho, meias soquete, laço no cabelo, talvez. Sabe, às vezes eu me lembro de coisas assim, de muitas coisas, como essa da menina  - como se houvesse uma parte de mim que não envelheceu e que guardou. Guardou tudo, até o príncipe que um dia não veio mais. Não, não foi um dia que ele não veio mais, foram muitos dias, em muitos dias ele não veio mais e passei a não acreditar nele mais. A água do mar salgava a minha boca, o sol queimava a minha pele, eu tinha a impressão de ser de couro, um couro ressecado, sujo, mal curtido. E havia essa coisa que também esqueci o jeito e que se chamava ódio ou amor. De vez em quando eu pensava - eu vou sentir essa coisa que se chama ódio. E sentia. Crescia uma coisa vermelha dentro de mim, os meus dentes rasgavam coisas. Devia ser bom, porque depois eu deitava na areia e ria, ria muito, era um riso que fazia doer a boca, os músculos todos, e fazia as minhas unhas enterrarem na areia, com força. Já pensei em sentir de novo essa coisa chamada amor, também. E, talvez pudesse sentir. Se eu deixasse. Mas eu não queria, acho que eu não queria. Deixei essa historia de querer pra lá, de querer pedir pra que alguém fique, sem que eu não tivesse tempo de me dizer qualquer coisa.  Sem que eu tivesse tempo de me dizer que quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, até um castelo. Mas, deixei pra lá.



Adaptado por mim.
Fragmento do livro "O Inventário do Irremediável",
Caio F. Abreu

Hoje: ZzzZ..zZzz

"Sem pensar em mais nada, fecho os olhos para esquecer.  Dorme, menina, repito no escuro, o sono também salva. Ou adia”.
 Caio F. Abreu


sábado, 16 de outubro de 2010

Corujas

Tinham um olhar dentro, de quem olha fixo e sacode a cabeça, acenando como se numa penetração entrassem fundo demais, concordando, refletidas. Olhavam fixo, pupilas perdidas na extensão amarelada das órbitas, e concordavam mudas. A sabedoria humilhante de quem percebe coisas apenas suspeitas pelos outros. Jamais saberíamos das conclusões a que chegavam, mas oblíquos olhávamos em torno numa desconfiança que só findava com algum gesto ou palavra nem sempre oportunos. O fato é que tínhamos medo, ou quem sabe alguma espécie de respeito grande, de quem se vê menor frente a outros seres mais fortes e inexplicáveis. Medo por carência de outra palavra para melhor definir o sentimento escorregadio na gente, de leve escapando para um canto da consciência de onde, ressabiado, espreita-ria. E enveredávamos então pelo caminho do fácil, tentando suavizar o que não era suave. Recusando-lhes o mistério, recusávamos o nosso próprio medo e as encarávamos rotulando-as sem problema como "irracionais", relegando-as ao mundo bruto a que deviam forçosamente pertencer. O mundo de dentro do qual não podiam atrever-se a desafiar-nos com o conhecimento de algo ignorado por nós. Pois orgulhos, não admitiríamos que vissem ou sentissem além de seus limites. Condicionadas a seus corpos atarracados, de penas cinzentas e três garras quase ridículas na agressividade forçada ― condicionadas à sua precariedade, elas não poderiam ter mais do que lhe seria permitido por nós, humanos.
 
Fragmento do livro "Inventário do irremediável.",
Caio Fernando Abreu ♥



sexta-feira, 15 de outubro de 2010

adverbial

…o que é amor pra você?
- Em 1987 meu pai tinha um carro azul.
- Mas o que isso tem a ver com amor?
- Bom, acontece que todos os dias ele dava carona pra uma moça. Ele saía do carro, abria a porta pra ela, quando ela entrava ele fechava a porta, dava a volta pelo carro e quando ele ia abrir a porta pra entrar, ela apertava a tranca. Ela ficava fazendo caretas e os dois morriam de rir… acho que isso é amor.

ps: achei bunitinho *-*
ps 2: às vezes eu sou tão gay , rs

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sexualmente Transmissivel

Seria a transa perfeita.

…e quando eu entrasse no quarto, nós estaríamos entrando no quarto… Ou melhor, quando nós virássemos um só, seriamos só um a entrar no quarto. E os seus lábios teriam o gosto que a natureza lhe prometera: o de me enfeitiçar. E nós seriamos criminosos das leis do karma, e Deus fugiria aos nossos insultos físicos futuros pretendidos - no quarto -, e seriamos pretendentes um do outro, para que no fim, realizássemos o mais macabro dos casamentos, e as nossas carnes apodreceriam juntas, pois envelheceríamos juntos, e levaríamos esse amor maior venenoso para o resto dos nossos dias misteriosamente apaixonados. E toda a culpa valeria a pena. Valeria muito a pena para mim - que a violentaria a cada centímetro oculto de seu corpo, com olhares, toques e pensamentos sujos -, valeria todas as penas do Estado. Valeria a pena para mim, quando eu a puxasse pelos cabelos, com força, raiva e tesão. Valeria a pena quando eu arrancasse a sua calcinha, por debaixo do seu vestido - enquanto você geme e lacrimeja de vontade de foder comigo, se sujando na lama que se tornaria aquela cama do quarto, e caindo em seu próprio abismo de pecado particular.
Valeria a pena para mim, quando minha mão caísse por sobre sua barriga, em seus braços, em suas costas… e juntamente a minha mão com a minha língua, cairíamos em seu pescoço, aonde minha língua tomaria outras rotas, sempre destinadas mais ao sul desse céu que se tornaria a sua pele. E a sua pele, para mim, seria um verdadeiro céu. Seria um céu por me dar a falsa impressão de que, ter asas para voar pelos céus noturnos, jamais poderia ser melhor do que aquilo, que se daria naquele exato momento. O seu corpo seria o céu da noite, repleto de fuga, sexo, mistério e medo.
E haveria uma dor pulsante e deliciosa contida na ansiedade da sua carne, ao você sentir minha língua e meus dedos, te fazendo sentir as delícias da morte, te fazendo nascer para dentro, se reencontrando a si mesma em uma outra vibe mais total.
Valeria a pena para você, que ao sentir alguma coisa vindo de dentro, a expulsaria de dentro de si, para fora do corpo, com um grito com sabor de paraíso, com sonho de paraíso, com jeito de. E, nunca um turbilhão de pecados fomentaria ponte mais sólida e atalho mais inusitado para o mundo do paraíso… Valeria a pena para ela, pois ela saberia que valeu a pena, assim que tivesse atingido um orgasmo - ansiando pelo próximo orgasmo.
E aí valeria a pena para ela, quando ele a fodesse por trás, respirando em sua orelha, sussurrando coisas indecentes e lindas, que quando codificadas e traduzidas para a língua dos anjos, diriam coisas como “eu nunca amei tanto alguém assim, como eu amo você.”, ou “você foi feita pra mim, não me deixa” e “eu quero envelhecer ao seu lado”.
E valeria a pena para os dois, pois os dois se amariam e se completariam… em outras palavras: trepariam, se devorariam, se matariam e depois renasceriam perdidos um no outro. E seria lindo, o descanso dos dois - nós dois e a cidade: eu e você.

E valeira a pena, sobretudo, por nós dois sermos complacentes com o culto ao corpo que nós pregaríamos, quando nos víssemos nus através dos espelhos intrusos.
Valeria a pena, pois nós saberíamos de todas as coisas passíveis de se um mortal saber. Saberíamos dos anos, saberíamos dos meses, dos dias e até das horas. Nós saberíamos das horas, pois seríamos amantes proibidos. Amantes proibidos nunca se esquecem das horas.
Valeria a pena para mim, que te beijaria na testa e me perderia em seus olhos grandes de humanidade e de céu e de inferno e de mim inteiro perdido neles.
Valeria a pena para você, que sentiria o meu beijo na testa, e detestaria a hora de nossa despedida, por saber que os meus olhos não mais te acompanhariam para o resto de todas as horas do resto de toda a sua vida.
Valeria a pena para o mundo inteiro. Valeria mais do que tudo que há de valor.
E nos seria uma dádiva sexualmente transmitida.

E quando o quarto parecesse pequeno demais para nós dois, nós iríamos embora, cada um para o seu lado. E você sairia da minha vista e isso me daria um certo medo do que ainda estaria por vir. E aí eu me apegaria a vestígios, lembranças ou cheiros teus, na minha pele. Qualquer marca valeria a pena…
E eu sentiria teu cheiro na minha blusa, e te lembraria de joelhos pra mim, me fazendo chover em você, ou então afundada no meu abraço, sorrindo e falando baixinho, e eu com os dedos em seu cabelo, cada vez mais perto dos lábios que tanto me chamam para alguma ação ou interação maior exterior/interior. E aí eu lembraria uma canção que você gosta, e cantaria sozinho e distraído, na cama do meu quarto, celebrando você…

Seria a tarde perfeita.



Diretamente do Blog do André

ps: ele é foda, adorei o texto, adoro como ele escreve. Fica aqui a minha singela homenagem :)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Por onde andei...

Foi numa dessas manhãs sem sol que percebi o quanto já estava dentro do que não suspeitava. E a tal ponto que tive a certeza súbita que não conseguiria mais sair. Não sabia até que ponto isso seria bom ou mau — mas de qualquer forma não conseguia definir o que se fez quando comecei a perceber as lembranças espatifadas pelo quarto. Não que houvesse fotografias ou qualquer coisa de muito concreto, não havia nada de concreto, só algo martelando dentro de mim que insistia em dizer “se fosse*não seria assim”. Não, num é arrependimento não. Não disse isso. Só não é do jeito que queria que fosse. Procurei soluções para meu medo, e pra falar a verdade eu nem sei se é medo, não sei o que sinto. Mas procurei uma solução pra esse “medo” com aspas indefinida, que eu sentia. Ou medo de sentir - Não sei - isso é tão diferente de tudo que já vi e vivi que eu não sei qual a definição a dar a esse troço, essa coisa, sei-lá-o-que. Não tenho pressa, não espero nada, tenho uma certeza que me conforta, certeza incerta do que nem sei do que tenho certeza, mas confio nela! Pode vir quando quiser, ligue, chame, escreva, tem espaço. Isso nunca me fará mal, nunca me senti tão bem. Estou tranquila, não considero erro, fiquei ali parada, procurando alguma coisa que não estava nem esteve ou estaria jamais ali, não tenho pressa, mas não posso ficar parada. Alguma recompensa há de ter. Tem tempo que decidi a não me lamentar por mais nada, cansei de amar errado, agora vivo as oportunidades que são dadas a mim, se for ruim ou não, sempre tem o seu lado bom. Não vou ficar revivendo nada, está tudinho guardado ninguém precisa saber disso – quanto mais não-dita melhor são as coisas, eu só quero continuar e estou tranquila, graças a Deus não dependo de muita coisa .E nem dependo ou preciso dizer alguma coisa - palavras não descreve beijos, braços e abraços, traços, modos e maneiras. Estou segura com as coisas que eu sinto aqui, são únicos. E os melhores até hoje. Somos livres. Voamos por todos os cantos, por todos os passos e espaços, andamos por onde quisermos, e pode ir. As pessoas tem que ser livres, até mesmo pra querer voltar pra nós. Eu prefiro assim, só andando por todos os lados que sabemos aonde é o lugar e a hora certa de voltar. E eu vou também. Vou de carona, posso ir até um quarto estranho que não é o meu, com a cor do azulejo semelhante, e que nada tinha de parecido, pelo menos. Talvez não precisaria nem voltar se quisesse, apesar de desejar o contrario, mas não me importa, de qualquer forma essas coisas me fazem companhia, e é uma coisa boa. Pode ter sido loucura, e continuarei sendo doida por algum tempo ainda. Vou dar voltas por ai, ir a lugares, cantos, espaços, me perder se for (e é) necessario,mas não se preocupe, me perder assim só me fará não esquecer o caminho de volta.



terça-feira, 12 de outubro de 2010

adverbial ...

"Aí ele chega, tão lindo. E vai embora, tão feio. E liga, tão bobo. E some, tão especial. E eu morro, ainda que não ligue a mínima. E eu não tô nem aí, ainda que pense o tempo todo em não estar nem aí. E quanto mais eu abro tudo, mais me fecho. E sigo intacta, ainda que toda esburacada. E tenho a plena certeza de que cometo o maior erro do ano, ainda que eu não duvide de que todos os acertos são mesmo feitos assim: quando a loucura nos vence de alguma forma."

Tati Bernardi

domingo, 10 de outubro de 2010

Convidando uma mulher pra sair

Quando um homem chama uma mulher para sair, não sabe o grau de estresse que isso desencadeia em nossas vidas. O que venho contar aqui hoje é mais dedicado aos homens do que às mulheres. Acho importante que eles saibam o que se passa nos bastidores. Você, mulher, está flertando um Zé Ruela qualquer. Com sorte, ele acaba te chamando para sair. Vamos supor, um jantar. Ele diz, como se fosse a coisa mais simples do mundo ‘Vamos jantar amanhã?’. Você sorri e responde, como se fosse a coisa mais simples do mundo: ‘Claro, vamos sim’. Começou o inferno na Terra. Foi dada a largada. Você começa a se reprogramar mentalmente e pensar em tudo que tem que fazer para estar apresentável até lá. Cancela todos os seus compromissos canceláveis e começa a odisséia. Evidentemente, você também para de comer, afinal, quer estar em forma no dia do jantar e mulher sempre se acha gorda. Daqui pra frente, você começa a fazer a dieta do queijo: fica sem comer nada o dia inteiro e quando sente que vai desmaiar come uma fatia de queijo. Muito saudável.
Primeira coisa: fazer mãos e pés. Quem se importa se é inverno e você provavelmente vai usar uma bota de cano alto? Mãos e pés tem que estar feitos – e lá se vai uma hora do seu dia. Vocês (homens) devem estar se perguntando ‘Mão tudo bem, mas porque pé, se ela vai de botas?’ Lei de Murphy. Sempre dá merda.
Uma vez pensei assim e o infeliz me levou para um restaurante japonês daqueles em que tem que tirar o sapato para sentar naqueles tatames. Tive que tirar o sapato com aquela sola do pé cracuda, esmalte semi-descascado e cutícula do tamanho de um champignon! Vai que ele te coloca em alguma outra situação impossível de prever que te obriga a tirar o sapato? Para nossa paz de espírito, melhor fazer mão é pé, até porque boa parte dessa raça tem uma tara bizarra por pé feminino.
As mais caprichosas, além de fazer mão e pé, ainda fazem algum tratamento capilar no salão: hidratação, escova, corte, tintura, retoque de raiz, etc. Eu não faço, mas conheço quem faça.
Ah sim, já ia esquecendo. Tem a depilação. Essa os homens não podem nem contestar. Quem quer sair com uma mulher não depilada, mesmo que seja apenas para um inocente jantar? Lá vai você depilar perna, axila, virilha, sobrancelha etc, etc. Mulher sofre! E lá se vai mais uma hora do seu dia. E uma hora bem dolorida, diga-se de passagem.
Dia seguinte.
É hoje seu grande dia. Quando vou sair com alguém, faço questão da dar uma passada na academia no dia, para malhar desumanamente até quase cuspir o pulmão. Não, não é para emagrecer, é para deixar minha bunda e minhas pernas enormes e durinhas (elas ficam inchadas depois de malhar).
Geralmente, o Zé Ruela não comunica onde vai levar a gente. Surge aquele dilema da roupa. Com certeza você vai errar, resta escolher se quer errar para mais ou para menos. Se te serve de consolo, ele não vai perceber.
Alias, ele não vai perceber nada. Você pode aparecer de Armani ou enrolada em um saco de batatas, tanto faz. Eles não reparam em detalhe nenhum, mas sabem dizer quando estamos bonitas (só não sabem o porquê). Mas, é como dizia Angie Dickinson: ‘Eu me visto para as mulheres e me dispo para os homens’. Não tem como, a gente se arruma, mesmo que eles não reparem.
Escolhida a roupa, com a resignação que você vai errar, para mais ou para menos, vem a etapa do banho. Depois do banho e do cabelo, vem a maquiagem. Nessa etapa eu perco muito tempo. Lá vai a babaca separar cílio por cílio com palito de dente depois de passar rímel.
Depois vem a hora de se vestir. Homens não entendem, mas tem dias que a gente acorda gorda. É sério, no dia anterior o corpo estava lindo e no dia seguinte… LEITOA! Não sei o que é (provavelmente nossa imaginação), mas eu juro que acontece. Muitas vezes você compra uma roupa para um evento, na loja fica linda e na hora de sair fica terrível. Se for um desses dias em que seu corpo está uma merda e o espelho está de sacanagem com a sua cara, é provável que você acabe com um pilha de roupas recusadas em cima da cama, chorando, com um armário cheio de roupa gritando ‘EU NÃO TENHO ROOOOOUUUUUPAAAA’. O chato é ter que refazer a maquiagem. E quando você inventa de colocar aquela calça apertada e tem que deitar na cama e pedir para outro ser humano enfiar ela em você? Uma gracinha, já vai para o jantar lacrada a vácuo. Se espirrar a calça perfura o pâncreas.
Ok, você achou uma roupa que ficou boa. Vem o dilema da lingerie. Salvo raras exceções, roupa feminina (incluindo lingerie) ou é bonita, ou é confortável.
Você olha para aquela sua calcinha de algodão do tamanho de uma lona de circo. Ela é confortável. E cor de pele. Praticamente um método anticoncepcional. Você pensa ‘Eu não vou dar para ele hoje mesmo, que se foooda’. Você veste a calcinha. Aí bate a culpa. Eu sinto culpa se ando com roupa confortável, meu inconsciente já associou estar bem vestida a sofrimento. Aí você começa a pensar ‘E se mesmo sem dar para ele, ele pode acabar vendo a minha calcinha… Vai que no restaurante tem uma escada e eu tenho que subir na frente dele… se ele olhar para essa calcinha, broxará para todo o sempre comigo…’. Muito fula da vida, você tira a sua calcinha amiga e coloca uma daquelas porcarias mínimas e rendadas, que com certeza vão ficar entrando na sua bunda a noite toda. Melhor prevenir.
Os sapatos. Vale o mesmo que eu disse sobre roupas: ou é bonito, ou é confortável. Geralmente, quando tenho um encontro importante, opto por UMA PEÇA de roupa bem bonita e desconfortável, e o resto menos bonito mas confortável. FATO: Lei de Murphy impera. Com certeza me vai ser exigido esforço da parte comprometida pelo desconforto. Exemplo: Vou com roupa confortável e sapato assassino. Certeza que no meio da noite o animal vai soltar um ‘Sei que você adora dançar, vamos sair para dançar!’. Eu tento fazer parecer que as lágrimas são de emoção. Uma vez, um sapato me machucou tanto, mas tanto, que fiz um bilhete para mim mesma e colei no sapato, para lembrar de nunca mais usar! Porque eu não dei o sapato? Porra… me custou muito caro. Posso não usá-lo, mas quero tê-lo. Eu sei, eu sei, materialista.
Depois que você está toda montadinha, lutando mentalmente com seus dilemas do tipo ‘será que dou para ele? É o terceiro encontro, talvez eu deva dar…’ Começa a bater a ansiedade. Cada uma lida de um jeito.
Tenho um faniquito e começo a dizer que não quero ir. Não para ele, ligo para a infeliz da minha melhor amiga e digo que não quero mais ir, que sair para conhecer pessoas é muito estressante, que se um dia eu tiver um AVC é culpa dessa tensão toda que eu passei na vida toda em todos os primeiros encontros e que quero voltar tartaruga na próxima encarnação. Ela, coitada, escuta pacientemente e tenta me acalmar.
Agora imaginem vocês, se depois de tudo isso, o filho da puta liga e cancela o encontro? ‘Surgiu um imprevisto, podemos deixar para semana que vem?’.
Gente, não é má vontade ou intransigência, mas eu acho inadmissível uma coisa dessas, a menos que seja algo muito grave! Eu fico p…, p…, PU…da vida!
Claro, na cabecinha deles não custa nada mesmo, eles acham que é simples, que a gente levantou da cama e foi direto pro carro deles. Se eles soubessem o trabalho que dá, o estresse, o tempo perdido… nunca ousariam remarcar nada. Se vira! Vem me buscar de maca e no soro, mas não desmarque comigo! Até porque, a essas alturas, a dieta radical do queijo está quase te fazendo desmaiar de fome, é questão de vida ou morte a porra do jantar! NÃO CANCELEM ENCONTROS A MENOS QUE TENHA ACONTECIDO ALGO MUITO, MUITO, GRAVE! DO TIPO… MORRER A MÃE OU O PAI TER UM AVC NO TRÂNSITO.
Supondo que ele venha. Ele liga e diz que está chegando. Você passa perfume, escova os dentes e vai. Quando entra no carro já toma um eufemismo na lata ‘HUMMM… tá cheirosa!’ (tecla sap: ‘Passou muito perfume, porra’). Ele nem sequer olha para a sua roupa. Ele não repara em nada, ele acha que você é assim ao natural. Eu não ligo, porque acho que homem que repara muito é meio viado, mas isso frustra algumas mulheres. E se ele for tirar a sua roupa, grandes chances dele tirar a calça junto com a calcinha e nem ver. Pois é, minha amiga, você passou a noite toda com a rendinha atochada no rego (que por sinal custou muito caro) para nada. Homens, vocês sabiam que uma boa calcinha, de marca, pode custar o mesmo que um MP4? Favor tirar sem rasgar.
Quando é comigo, passo tanto estresse que chego no jantar com um pouco de raiva do cidadão. No meio da noite, já não sinto mais meus dedos dos pés, devido ao princípio de gangrena em função do sapato de bico fino. Quando ele conta piadas e ri eu penso ‘É, eu também estaria de bom humor, contando piada, se não fosse essa calcinha intra-uterina raspando no colo do meu útero’. A culpa não é deles, é minha, por ser surtada com a estética. Sinto o estômago fagocitando meu fígado, mas apenas belisco a comida de leve. Fico constrangida de mostrar toda a minha potência estomacal assim, de primeira.
Para finalizar, quero ressaltar que eu falei aqui do desgaste emocional e da disponibilidade de tempo que um encontro nos provoca. Nem sequer entrei no mérito do DINHEIRO. Pois é, tudo isso custa caro. Vou fazer uma estimativa POR BAIXO, muito por baixo, porque geralmente pagamos bem mais do que isso e fazemos mais tratamentos estéticos:
Roupa…………… ……… ………. ………. ……….. ………. R$ 200,00
Lingerie…. ……… ………. ……….. ……….. ……… ………R$ 80,00
Maquiagem… ……….. ………… ……… ……… ……… ….R$ 50,00
Sapato…… ……….. ………. ……… ……… ………………R$ 150,00
Depilação….. ……… ……… ……… ………. ……………..R$ 50,00
Mão e pé……….. ……….. ……… ……….. ………. …….R$ 15,00
Perfume….. ………. ……….. ……… ……… …………….R$ 80,00
Pílula anticoncepcional. ……… ……… …… …………..R$ 20,00
Ou seja, JOGANDO O VALOR BEM PARA BAIXO, gastamos, no barato, R$ 500 para sair com um Zé Ruela. Entendem porque eu bato o pé e digo que homem TEM QUE PAGAR O MOTEL? A gente gasta muito mais para sair com eles do que ele com a gente!



ps: adoooro esse texto; haha; e não sei quem é o autor

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

advérbio do dia: Modo e Lugar

"vaai que ela deixaa, ela gosta ... chega pertinho dela e manda essa parada, encosta nela e ... "saparada" ♫ né Moniqueee?! haha

O rdb é o podeeeeeer ♫ hahaha

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

adverbial

"A primeira vez que entendi do mundo alguma coisa,foi quando na infância
cortei o rabo de uma lagartixa
e ele continuou se mexendo.
De lá pra cá, fui percebendo que as coisas permanecem
vivas e tortas, que o amor não acaba assim, que é difícil extirpar o mal pela raiz.
A segunda vez que entendi do mundo alguma coisa,
foi quando na adolescência me arrancaram
do lado esquerdo três certezas e eu tive que seguir em frente.
De lá pra cá, aprendi a achar no escuro o rumo e sou capaz de decifrar mensagens seja nas nuvens ou no grafite de qualquer muro. "
Affonso Romano de Sant'Anna

 

domingo, 3 de outubro de 2010

Resenha

Acabei de ler um livro - E Sim! - escrito por uma prostituta!
E quero logo adiantar e ressaltar que apesar de ter sido escrito por tal, onde a profissão é vista com preconceito, o livro não perde nem de longe pelo quesito - Bem escrito. Muito pelo contrario riquíssimo em literatura. Sem nenhum atrevimento ou exagero a comparação, por se tratar de uma profissão não muito bem-vinda e não de uma conceituada escritora. Muito bem detalhado, todo trabalhado em metáforas e outras figuras de linguagens movidas por toda emoção vivida, por sentimento, e não pela banalidade do sexo ou pelas experiências chulas que teve (o que é de se esperar ou o que mais ganha mais ibope)  tanto que tais palavras mais escrachadas, proveniente do oficio, raramente é menciona dando lugar a eufemismos.
Não sei se por ser interessante ou pela ansiedade de logo saber o desfecho ou grande parte das duas coisas, li as 310 paginas em apenas dois dias. Não que tenha sido diferente dos outros livros que me atrevi a ler. Mas a ansiedade e o envolvimento com os sentimentos e as palavras dela, me eram tão reais que não consegui me desprender até que chegasse o fim.
Fazendo um breve resumo, o livro trata de uma jovem brasileira que nunca fora prostituta antes de ir para Portugal apesar de ter ido com esse intuito, tentada pela proposta de resolver sua vida nos três meses que era estabelecido pelo "contrato". Temendo que passasse pelo desemprego ou ter passar por privações e dificuldades novamente - arriscou-se e foi! Pra um lugar, onde não conhecia praticamente nada e muito menos as pessoas que iria conviver. Passou por muitas e muitas dificuldades e descobertas até se adaptar com a “nova vida” dentre muitas decepções também.
Estou sendo muito (mas muito mesmo) superficial ao fazer o resumo, porque só lendo o livro mesmo pra entender seus motivos que a levaram até ali e as sensações que sentiu na pele - a frustração, o medo, as tristezas, algumas alegrias e surpresas boas e ruins que ela descreve fielmente.
Cheguei ao conhecimento do livro através do seu blog, que por um acaso encontrei sem querer pesquisando uma coisa totalmente diferente - um texto da Martha Medeiros – Me chamou muita a atenção a maneira que escrevia, a sua inteligência e por me identificar bastante com suas opiniões e a forma de encarar as coisas. O que me conquistara tamanha admiração. Alguns retorceram o nariz quando mencionei que havia comprado um livro desse gênero e só faltou dizer (com todas as letras) que eu estava procurando um manual, só porque disse que a admirava. Mas é de se entender, porque na terra da hipocrisia a pergunta que não quer calar é: Como alguém pode dizer que admira uma puta? E admiro mesmo! É pessoa exatamente como qualquer outra, que sofre, sente e luta como qualquer um, independente da função que exerce. E sempre partindo do principio - ninguém pode julgar ninguém - pois ninguém vive na pele do outro, ninguém sabe o que as levaram até ali, ninguém sabe no que vai na alma e no coração da outra pessoa, ninguém sabe das motivações das outras pessoas, e aí é muito fácil sentar a bundinha do outro lado pra julgar e estabelecer o que é certo ou errado, apenas porque o outro tem um defeito que a gente não tem. Ninguém se torna puta porque quer ou por vocação. E muito menos por ser uma “vida fácil”, assim, qualquer um estaria disposto a abrir as pernas pra qualquer um por dinheiro e não teria outra profissão tão disputada, além dessa. Cada um tem a liberdade de fazer o que quiser das suas vidas desde que não interfira na liberdade e na vida do outro. O que a gente mais vê – ou não, é gente por ai fazendo coisas muito piores do “alugar” o próprio corpo, com o intuito de prejudicar o próximo em beneficio próprio. E a gente ainda senta, acha bonito e bate palma. Além de existirem pessoas que não só se prostituem por dinheiro. Mas também por salários, por posições, por estabilidade, por prestígio, etc. E a única diferença é que a prostituta profissional expõe, claramente, o que está dando e aquilo que quer receber em troca, enquanto que, na dita prostituição social, por acaso até parece que é tudo de graça.
Há muita coisa além do que se vê. Portanto, nunca devemos julgar o livro pela capa.

Seguidores