…e quando eu entrasse no quarto, nós estaríamos entrando no quarto… Ou melhor, quando nós virássemos um só, seriamos só um a entrar no quarto. E os seus lábios teriam o gosto que a natureza lhe prometera: o de me enfeitiçar. E nós seriamos criminosos das leis do karma, e Deus fugiria aos nossos insultos físicos futuros pretendidos - no quarto -, e seriamos pretendentes um do outro, para que no fim, realizássemos o mais macabro dos casamentos, e as nossas carnes apodreceriam juntas, pois envelheceríamos juntos, e levaríamos esse amor maior venenoso para o resto dos nossos dias misteriosamente apaixonados. E toda a culpa valeria a pena. Valeria muito a pena para mim - que a violentaria a cada centímetro oculto de seu corpo, com olhares, toques e pensamentos sujos -, valeria todas as penas do Estado. Valeria a pena para mim, quando eu a puxasse pelos cabelos, com força, raiva e tesão. Valeria a pena quando eu arrancasse a sua calcinha, por debaixo do seu vestido - enquanto você geme e lacrimeja de vontade de foder comigo, se sujando na lama que se tornaria aquela cama do quarto, e caindo em seu próprio abismo de pecado particular.
Valeria a pena para mim, quando minha mão caísse por sobre sua barriga, em seus braços, em suas costas… e juntamente a minha mão com a minha língua, cairíamos em seu pescoço, aonde minha língua tomaria outras rotas, sempre destinadas mais ao sul desse céu que se tornaria a sua pele. E a sua pele, para mim, seria um verdadeiro céu. Seria um céu por me dar a falsa impressão de que, ter asas para voar pelos céus noturnos, jamais poderia ser melhor do que aquilo, que se daria naquele exato momento. O seu corpo seria o céu da noite, repleto de fuga, sexo, mistério e medo.
E haveria uma dor pulsante e deliciosa contida na ansiedade da sua carne, ao você sentir minha língua e meus dedos, te fazendo sentir as delícias da morte, te fazendo nascer para dentro, se reencontrando a si mesma em uma outra vibe mais total.
Valeria a pena para você, que ao sentir alguma coisa vindo de dentro, a expulsaria de dentro de si, para fora do corpo, com um grito com sabor de paraíso, com sonho de paraíso, com jeito de. E, nunca um turbilhão de pecados fomentaria ponte mais sólida e atalho mais inusitado para o mundo do paraíso… Valeria a pena para ela, pois ela saberia que valeu a pena, assim que tivesse atingido um orgasmo - ansiando pelo próximo orgasmo.
E aí valeria a pena para ela, quando ele a fodesse por trás, respirando em sua orelha, sussurrando coisas indecentes e lindas, que quando codificadas e traduzidas para a língua dos anjos, diriam coisas como “eu nunca amei tanto alguém assim, como eu amo você.”, ou “você foi feita pra mim, não me deixa” e “eu quero envelhecer ao seu lado”.
E valeria a pena para os dois, pois os dois se amariam e se completariam… em outras palavras: trepariam, se devorariam, se matariam e depois renasceriam perdidos um no outro. E seria lindo, o descanso dos dois - nós dois
E valeira a pena, sobretudo, por nós dois sermos complacentes com o culto ao corpo que nós pregaríamos, quando nos víssemos nus através dos espelhos intrusos.
Valeria a pena, pois nós saberíamos de todas as coisas passíveis de se um mortal saber. Saberíamos dos anos, saberíamos dos meses, dos dias e até das horas. Nós saberíamos das horas, pois seríamos amantes proibidos. Amantes proibidos nunca se esquecem das horas.
Valeria a pena para mim, que te beijaria na testa e me perderia em seus olhos grandes de humanidade e de céu e de inferno e de mim inteiro perdido neles.
Valeria a pena para você, que sentiria o meu beijo na testa, e detestaria a hora de nossa despedida, por saber que os meus olhos não mais te acompanhariam para o resto de todas as horas do resto de toda a sua vida.
Valeria a pena para o mundo inteiro. Valeria mais do que tudo que há de valor.
E nos seria uma dádiva sexualmente transmitida.
E quando o quarto parecesse pequeno demais para nós dois, nós iríamos embora, cada um para o seu lado. E você sairia da minha vista e isso me daria um certo medo do que ainda estaria por vir. E aí eu me apegaria a vestígios, lembranças ou cheiros teus, na minha pele. Qualquer marca valeria a pena…
E eu sentiria teu cheiro na minha blusa, e te lembraria de joelhos pra mim, me fazendo chover em você, ou então afundada no meu abraço, sorrindo e falando baixinho, e eu com os dedos em seu cabelo, cada vez mais perto dos lábios que tanto me chamam para alguma ação ou interação maior exterior/interior. E aí eu lembraria uma canção que você gosta, e cantaria sozinho e distraído, na cama do meu quarto, celebrando você…
Seria a tarde perfeita.
Diretamente do Blog do André
ps: ele é foda, adorei o texto, adoro como ele escreve. Fica aqui a minha singela homenagem :)

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