Quem dera eu poder escrever tudo que eu queria escrever, além disso, poder dizer tudo àquilo que eu queria dizer. E mais, me permitir sentir tudo aquilo que eu queria sentir. De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, acender velas, fazer caras, fazer novela – e como é de se esperar o script nem sempre é o mesmo. Alias, é o mesmo sempre. Por já saber de certo o enredo, o final já poderia prever, a história é sempre a mesma. Por que seria diferente?
Conheci um ator há um tempo atrás, inteligente, bonito, excelente no que fazia, pudera eu dizer que ele atuava muito bem, eu sempre o assistia, atentamente. Vigiava todos os seus ensaios, conhecia de ponta a ponta todas as suas falas e interpretações, apesar de repetitivos e decorados ele atuava muito bem. E como todos os atores, suas facetas eram bem reais. Eu o admirava muito, até hoje o admiro. Faz tempo que eu não o vejo e acho que até sinto falta dele. Quando a gente conversava, por vezes quase conseguia me enganar com aquelas falácias dele – ele achava que eu era boba de cair. Mal sabia ele que eu sabia daquele roteiro de trás pra frente. E pra não cair naquele jogo, aprendi a ser um pouco atriz também. No começo isso funcionava muito bem, até que chegou um tempo que eu não sabia mais o que era real ou ficção, na dúvida eu continuei a atuar, e ele, talvez, tentava me mostrar que aquilo tudo não era mais ficção.
E eu errei mais uma vez quando me pediu para que eu parasse de ser tão atriz e eu neguei. Continuei mentindo e blefando no jogo de não me deixar errar, quando o único jogo acertado seria não atuar, e eu: neguei. Toda atenta pra não me enganar com medo de errar, e eu negava e errava cada vez mais. Até que ele me disse que precisava ir embora, apesar de gostar muito de mim. E que apesar de sentir que tudo que eu fazia ou deixava de fazer era tudo atuação minha, ele precisava de algo mais – alguém que acreditasse nele. E eu o deixei ir, preferi que fosse, antes que eu descobrisse que eu era uma farsa pra mim mesma. Eu dizia pra ele que não acreditava fazia tempo naqueles finais felizes das novelas e peças que ele fazia. E ele disse que estava cansado de não acreditar. E tentava me mostrar que nem tudo era tão irreal quanto parecia. E que nem sempre ele era tão bom ator assim. Sem tanta dor, permiti e nem pedi que ficasse e nem quis saber também o porquê, se eu já sabia, antes que ele me mostrasse que o dizia era verdade. Dei meu número pra ele e guardei o dele, mas nem vou ligar apesar de ter lembrado dele, porque meu papel agora é outro. Talvez um dia ele volte e tente me mostrar mais uma vez que a historia poderia ser diferente, e eu não esteja tão cética. Ou pode ser que não, pode ser que nada disso acontença. Pode ser que eu nem o veja mais. Pra mim vai está tudo bem da maneira que for. Faz tanto tempo que eu não o vejo mesmo, talvez ele tenha até deixado a profissão de ator sem que eu percebesse ou tivesse noticia e eu preferi continuar aqui, descrente desse ou daquele final feliz que eu aprendi a desacreditar, sendo essa tão boa atriz, que ninguém percebe minha péssima atuação.

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