quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Entre-Linhas

- estou com saudades de você, e agora, o que você me diz?
-  eu digo – também!
Houve uma confissão, mas ninguém disse nada. As entrelinhas ainda era regra. O silêncio se faz mais uma vez na sala de espera, e ele sem dizer uma palavra se desfaz diante dela, ela que era ele, ele que era ela, se confundia mais uma vez sem dizer quem era quem.
Ela olhava pra ele, e ele a lembrava das suas lembranças que tinha no decorrer daqueles anos, dizia que ela ocupava uns dos lugares mais bonitos da vida dele, e ela sem dizer uma palavra.
Passaram-se alguns dias, e eles se encontraram novamente, numa rua incomum ao caminho dela, ele ficou surpreso quando a viu, ela também, mas ela já esperava. Ele assumia com um susto a vontade de vê-la, com os olhos arregalados, ele a dizia, sem dizer uma palavra a ela.
Passaram-se anos no mesmo dilema, na mesma saudade, no mesmo discurso sem curso, sem rumo, sem palavras, sem fim.
Passou um tempo e ela foi embora pra outra cidade, ele foi embora pra outro lugar, mas eles se encontravam sem dizer nada um ao outro aonde estavam, mas lá onde estavam se encontravam no mesmo lugar.
Passaram-se alguns meses ela havia voltado da cidade, ele soube, mas nem a procurou, ela havia dito que estava de volta, ele receoso com a sua partida de volta a cidade, não quis encontrá-la, e ela também não insistiu e seguiu com o que tinha que fazer. Encontrar com ele. Bateu em sua porta, numa noite, já era madrugada ele já estava dormindo, acordou com o barulho que ela fazia na tranca, levantou e surpreso olhou pra ela da vidraça, e mal conseguiu disfarçar o sorriso no canto da boca ao olhar pra ela, mesmo desfocada e embaçada no reflexo do vidro. Abriu a porta como quem abria o peito e dizia em voz baixa depois do silêncio de olhar um pro outro – eu estava com saudades de você, sabia? Ela ria sem graça, e no silencio deitada sobre seu colo dizia – eu também. Ele falava, ela ouvia e respondia, em silencio, mas ele entendia.
A noite acabava mais uma vez e ela ia embora. Era hora de voltar pra casa na outra cidade onde agora morava. Ele ficava com as coisas que ele fazia, com as coisas que ele achava que gostava de fazer, com as coisas que supriam a falta dela que era inconsciente. Mas ela fazia e ele sabia. Tudo era intenso, tudo era verdadeiro, tudo começava, mas sempre acabava. E ela imaginava a falta que ele fazia. E começava de novo sem que planejassem ou quisessem e se entregavam ao transe mais uma vez que o destino prometia. ‘Transe que se dá, como algo inacabado, e ele acabava. E por acabar, por se saber acabado, fica sempre por se querer mais, é inacabado, e é sempre. ’

-O que você faria se eu fosse embora?
-Eu esperaria até que você voltasse.
E ele disse a ela e ela disse a ele, ele que era ela, ela que era ele, sem dizer quem era quem.



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