terça-feira, 23 de novembro de 2010

O segredo de Sophia


“Sophia fingiu a vida inteira mas nunca deixou de procurar a verdade. Sempre uma tosse de angústia na boca do peito. Sempre um motorzinho acelerado enjoado lá pro meio de algo que fica dentro. O olho ardia. A língua travava de vontade de mudar todo o discurso pronto e dizer apenas a verdade. Mas qual era a verdade? Então seguia fingindo”. Seus olhos fingiam choravam pra dentro, isso era o que dizia, como algo que atropela o coração e se via destroçado, era o que sentia. A final quem garante que também ela não fingia sentir o desamparo naquela verdade que ela via e sentia?
Quando que isso se tornou tão importante assim? Onde foi o erro? Sempre muito calculista e cheia de estratégias. Seus olhos estremeciam, pareciam ter vontade própria. E tinham.
Depois de um dia inteiro nos mesmos pensamentos, que se repetiam durante horas, na mesma velocidade que um ponteiro leva a cada segundo até chegar o percurso completo. Sophia fazia promessas ao vento, jurava, prometia e se importava com as coisas que fingia se importar. Fingia promessas, fingia juras. Não se importava e fingia mais uma vez não se importar. Fingia amor, fingia ausência, fingia gostar.
E ela não cansa - Ora Sophia, mas por que se faz tão assim? - Mas como eu queria ser assim, sempre tão forte como você. Determinada nos seus desejos. Sempre que deseja algo és tão firme, tão decidida e é tão louvável quando conquista o que quer. E sempre consegue. Por que se desfaz nas suas promessas?
Sophia parecia uma pedra - dura e rígida, - como uma pedra de gelo – fria e gelada. Aquela pedra que leva tanto tempo pra endurecer, ficar firme presa dentro de uma caixa pra de repente se desmanchar completamente fora dela.
Fingia sofrer muito por aquilo, mas não fingia a alegria que se instalava. Talvez nem a sua dor diante do que sabia. Mas ela acreditava no que foi lhe prometido um dia em palavras. Poderia nem ser verdade, mas ela acreditava. Ou fingia acreditar. Vai-se saber.
Até hoje eu não sei onde começa a verdade e mentira que Sophia contava. Ou conta. Mas ela parecia não ter vontade própria. E não tinha, embora ela nunca se esconda. Sempre dá a cara à tapa de alguma forma. Sempre rija.
Embora fingisse sempre, ela não negava mas escondia.Talvez a mentira que ela era, era verdade.Ou: a mentira nela nunca fora fraude, mas essência. Seu segredo mais fundo e mais raso, daí quem sabe a surpresa branca de quando ouvira um quase-amigo dizer que não passava de uma personagem”.
Seus olhos estremunhavam, se repudiava por ter seu desejo mais uma vez abalado, mas não se negava ao seu real desejo atendido. Pensava nisso o tempo todo, não só naquela tarde inteira, mas nas tardes antecedentes ou noites que procedia. Fingia e se negava. Como sempre ela conseguia - fingir e negar, ela que era tão forte, mas seu coração parecia ter vontade própria. E tinha.



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